Os romanos tinham um adágio que dizia «certanti et resistenti victoria cedit» que quer dizer «a vitória é dos lutadores e dos resistentes». Recordei-me desta frase devido à comemoração dos 25 anos da realização do referendo de 1999 que conduziu à independência do povo timorense.
Desde criança ouvia falar de Timor-Leste, pois o meu pai chegou a estar destacado para a longínqua província ultramarina, logo após a independência de Angola em 11 de novembro de 1975, para preparar a independência do território, mas devido aos acontecimentos do 25 de novembro e a invasão de Timor pela Indonésia, não chegou a ser mobilizado.
Andava na escola secundária quando se deram os massacres do cemitério de Santa Cruz, em novembro de 1992, e recordo-me de tratarmos o assunto nas aulas, fazer minutos de silêncio, ficando sempre atento ao tema. Participei em vigílias e debates pela causa timorense, aderi ao boicote aos produtos do país invasor.
Após o referendo e a consequente onda de destruição que as milícias pró-indonésias fizeram, estive nas vigílias na Praça da Liberdade, no Porto; hasteei a Bandeira portuguesa com uma faixa branca no quintal de casa; fui a marchas vestido de branco e recordo o momento em que estava na Ribeira do Porto quando tudo parou: a emissão das rádios, o trânsito na ponte Luís I, as sirenes dos barcos, os sinos a dobrar e a buzina dos automóveis. Foi arrepiante e significativo. Valeu a pena, pois os portugueses conseguiram alertar a opinião pública mundial para o que estava a acontecer.
Quis o destino que estivesse em funções no santuário de Fátima, como responsável da sala de imprensa, quando o líder da resistência timorense, Xanana Gusmão, visitou o santuário e quando foi entregue a réplica da imagem peregrina de Nossa Senhora para estar nas cerimónias da independência em 2002.
Dos líderes timorenses ficou o registo de que foi na fé que a maioria deles encontrou as forças para resistir ao inimigo invasor e destruidor. Se antes da invasão os cristãos eram uma pequena parte da população, hoje a jovem nação timorense é um país de maioria católica e será visitado, proximamente, pelo Papa Francisco.
A vitória é sempre dos que resistem e lutam. Resistir é vencer e a fé pode ser uma das forças que insufla as mentes e os corações dos que lutam, em causas justas, pela dignidade de todos os seres humanos.
Nem tudo foram rosas nestes 25 anos, mas o povo timorense é o dono do seu futuro, como dizia o poeta inglês William Ernest Henley, no poema «Invictus»:
Protegido da noite que me encobre,
Escura como o vão entre os mastros,
Eu agradeço a quaisquer deuses que acaso existam
Por minha alma inconquistável.
Nas garras das circunstâncias,
Não estremeci ou chorei em voz alta.
Sob os golpes do acaso
Minha cabeça sangra, mas não curvada.
Além deste lugar de ira e lágrimas,
Agiganta-se o horror das sombras,
E, ainda assim, a ameaça dos anos
Me encontra, e me encontrará, sem medo.
Não importa quão estreito seja o portão,
Quão cheio de punições o pergaminho,
Eu sou o mestre do meu destino,
Eu sou o capitão da minha alma
Por Sérgio Carvalho