A Privatização da Bienal do Capão!!! Quais as razões e as consequências para a dinamização cultural na cidade de Freamunde?
Nas suas duas edições, a Bienal do Capão de Freamunde tornou-se em mais um símbolo da vitalidade cultural e do forte espírito associativo da cidade de Freamunde. Sem duvida que, apenas com duas edições, este evento não só celebrou as tradições centenárias do Capão, como também representa a união entre as diversas associações locais e todos os cidadãos que partilham o orgulho de ser Freamundense.
A novidade da Feira Antiga em 2019
Em 2019, a iniciativa “300 anos Capão de Freamunde” foi uma novidade, permitindo-nos reviver a história através de uma série de atividades que misturavam tradição e inovação. Foi um exemplo claro de como o envolvimento da comunidade pode resultar em eventos de grande sucesso, não apenas no número de visitantes, mas também no fortalecimento dos laços culturais e comunitários.
Contudo, a recente decisão do presidente da Junta de Freguesia de Freamunde e do vereador da Cultura de substituir a organização da Bienal do Capão, retirando-a das mãos das associações locais e entregando-a a uma empresa privada, é, no mínimo, estranho.
Esta decisão parece ignorar o valor inestimável do capital humano e associativo que, até agora, foi o pilar deste evento. Afastar as associações locais, que têm sido a alma da Bienal, é seguir um caminho que pode levar ao enfraquecimento do tecido social e cultural de Freamunde.
A Associação “Bienal do Capão”
Em 2022, foi criada a Associação “Bienal do Capão”, um gesto que sublinha a vontade das gentes de Freamunde em continuar a gestão e organização deste evento, que é parte integrante da sua identidade cultural e do seu património. Este exemplo de mobilização local reflete uma tendência observada noutras regiões, onde a cultura é sustentada pelas próprias comunidades.
Bienais como a de Gaia, organizada pela Artistas de Gaia-Cooperativa Cultural, ou a Bienal Internacional de Arte de Cerveira, gerida pela Fundação Bienal de Arte de Cerveira, mostram que o associativismo não só é viável, como é desejável, garantindo que a gestão dos eventos culturais permanece próxima daqueles que mais diretamente se relacionam com eles, enquanto asseguram a independência política.
A decisão de entregar a gestão da Bienal do Capão a uma empresa privada não apresenta, até agora, qualquer vantagem evidente para o evento; muito pelo contrário, esta mudança pode ser interpretada como um afastamento da participação cívica e um retrocesso no desenvolvimento local.
Quando a Junta de Freguesia de Freamunde e o vereador da Cultura decidem substituir a comunidade associativa por interesses privados, o risco de perda do património cultural é real.
Freamunde merece muito mais!
Merece uma gestão que valorize e preserve o seu património cultural. Merece uma gestão que promova a dinamização cultural na cidade de Freamunde, uma gestão que não entregue nas mãos de quem não tem ligação a Freamunde e às suas tradições a nossa cultura e o futuro do movimento associativo que tanto nos honra.