Duas notícias recentes com o fundo das primeiras ações do governo Trump. As notícias de que o partido de extrema-direita de Nigel Farage se encontra em primeiro lugar nas sondagens na Grã Bretanha;
- que a AfD, o partido de extrema direita surge em segundo lugar nas sondagens na Alemanha;
- que a extrema direita de Meloni é governo em Itália;
- que o RN, de Marine Le Pen, está no topo das preferências dos franceses.
No fim-de-semana [8 e 9 de Fevereiro], esta girândola de organizações ditas “patriotas” reuniu-se em Madrid para concertar estratégias, numa reunião organizada pelo VOX, [partido] dos herdeiros do franquismo.
Existem muitas explicações para esta ascensão dos movimentos que ressuscitam o nazismo e surgem crismados com várias designações: direita radical, populistas, nacionalistas, patriotas; que apresentam temas comuns como o mal da sociedade:
- imigração,
- segurança,
- corrupção,
- direitos de minorias que constituem a cartilha da doutrina neoliberal que teve o seu primeiro ato de vitória com o golpe dos Estados Unidos, em 1973, no Chile contra o governo de Allende, e tem como finalidade última a instauração de poder oligárquico hegemónico.
Um mundo em que uma oligarquia constitua o centro do poder, no mínimo no que hoje passou a ser designado por Ocidente Global.
O neoliberalismo, que também surge designado como neoconservadorismo, não tem nada de novo: é a ideologia determinante da História. É a ideologia da História do Ocidente, da luta dos poderosos contra os povos e da resistência destes contra o poder das oligarquias, da minoria dos “ungidos” que assumiram o poder e o querem conservar a todo o custo e por todos os meios. Sendo que apenas variam os meios e não o objetivo: o poder.
Os “neocons”, norte-americanos ou europeus, são tanto herdeiros dos nazis, como dos “senhores de pendão e caldeira” da Idade Média, dos usurários que organizaram o sistema financeiro desde o escudo português, ao peso espanhol, à libra e ao dólar.
Os “patriotas” europeus e os “neocons” americanos, reunidos sob o rótulo de liberais, defendem a concentração de poder numa elite, com todos os direitos, e a colocação da maioria na posição dos “servos” da Idade Média, como propriedade da minoria, com um programa de vida que consiste em trabalharem muito e em silêncio, e morrerem cedo.
As redes sociais como escola de ditadores
As novas tecnologias da informação têm servido, como no antecedente serviram as religiões, para obter a “obediência voluntária” da maioria, os servos, e daí a utilização por parte destes movimentos caracteristicamente nazis de bandeiras que pretendem impor e cavalgar o medo do outro, do diferente, da igualdade, de explorar o velho princípio de dividir para reinar. De – dado não ser possível calar as multidões – ensurdecê-los com notícias falsas ou manipuladas.
O conclave de Madrid, dos ditos “patriotas europeus”, do neoconservadorismo imposto como religião oficial do império, faz parte de uma história com final conhecido: um confronto violento, sem piedade.
Já estamos a assistir aos seus mais recentes métodos na defesa de velhos princípios nas manifestações do genocídio de Gaza, com o negócio de terras e riquezas naturais que já é publicamente assumido ser uma das causas da guerra da Ucrânia, o desmantelamento dos serviços públicos nos Estados-Unidos, e do estado social na Europa.
Para estes velhos movimentos elitistas (há quem pretenda iludir as opiniões públicas designando-os por “populistas”) a promoção de guerras é a finalidade última das suas ações, o meio de conservarem o poder.
Não por acaso, a NATO, que é a nata fardada destes movimentos, pretende impor o aumento das despesas em armamento à custa das despesas sociais.
Pensamento ocidental capturado
O “pensamento ocidental” foi capturado por esta ideologia, assumindo-a como parte de si e como única via para manter o “statuo quo”, optando pelo imobilismo. A União Europeia defende este tipo de poder e de mundo, pese embora a embalagem de democracia e de respeito pela vontade dos europeus com que surge embrulhada na arena do Parlamento Europeu, ou na sede da Comissão.
As crises do “subprime” em 2008, as decisões sobre Portugal e a Grécia com o envio de cobradores implacáveis, a crise do COVID revelaram a essência do poder da União, concentrado no sacrário do Banco Central Europeu.
Perante a crise resultante da emergência de novos centros de poder, a União Europeia promove a concentração da riqueza e do domínio numa minoria, e é essa comunhão de objetivos que leva os seus líderes a normalizar os movimentos nazis, num processo de inclusão que é visível, desde logo, na terminologia que lhes é aplicada e no tempo de antena que lhes é concedido. É essa comunhão que leva a União Europeia a apoiar regimes nazis como o Ucraniano e o de Israel, porque eles servem a finalidade de acusar quem se oponha de ser inimigo da “liberdade”.
Lutar contra os movimentos nazis, com qualquer rótulo que se apresentem, é uma questão de sobrevivência de uma sociedade tendencialmente justa e igualitária.
A normalização destas organizações nazis pelos grandes meios de comunicação de massas faz parte da estratégia de obter a predisposição das vítimas para serem dominadas. E existe uma vertigem nas sociedades para seguirem estas falsas estrelas e correrem atrás dos seus tambores de guerra.
Os slogans MAGA, “Make America Great Again” – servilmente copiado pelos nazis reunidos em Madrid com a fórmula MEGA – são exemplos da falácia em que os seus promotores querem envolver os seus futuros servos.
A grandeza da América e da Europa assentou na ocupação violenta de um território, no caso norte-americano, e na exploração colonialista, no caso da Europa. Os ressuscitados movimentos neonazis e “neocons”, os oligarcas que os promovem, estão a propor que os cidadãos norte-americanos e europeus sejam os índios exterminados e os africanos explorados.
É esta a nova ordem do mundo que propõem e que impõem através dos seus aparelhos de manipulação. Um naufrágio civilizacional.
Por Carlos Matos Gomes