A República atingiu os limites da discussão pública e depois política e ficou refém de uma linguagem justicialista que tem por fim ser interminável, por sempre encontrar no “espírito da coisa” algo que falta “explicar”.
Para os defensores de ética republicana, a lei é o único mandamento admissível, pelo que a diferença entre bem e mal não existe aqui nesta moral, antes se assume que no atual regime os atos são apreciados e julgados na visão da legalidade dos atos praticados.
O Primeiro-Ministro sempre cumpriu a lei – nisto são unânimes todos os observadores com competência judicial – e, contudo, a situação política da República é de crise, anunciando-se eleições para meados de Maio.
Outro atributo da República – no cumprimento da lei – é que quem governa deve ser transparente e, em caso de necessidade, explicar à Opinião Pública as situações pessoais que impliquem juízo político.
Ora explicar é partir por partes até que, pela análise a cada parte, se verifique se algo está errado, ou seja, se não cumpre a lei.
Depois de tudo explicar, acontece que a insatisfação dos seus adversários se mantém! Percebe-se assim que não há nada a explicar mas antes há a pressionar o Primeiro-Ministro para uma toca no parlamento para o submeter a si e à sua família numa “comissão de inquérito” que “queime em lume brando” o partido que sustenta o Governo e abra porta para novas eleições.
O jogo perigoso da Comunicação Social
O caso agora em análise surgiu apenas na Comunicação Social e foi alimentado por ela. E a classe política aproveitou a boleia e cavalgou a oportunidade tendo por base o princípio – que já vem do antigo regime – de que em política o que parece é!
Ora para a Comunicação Social o que parece deve ser provado antes de ser notícia; e não consta em nenhum texto sobre jornalismo que uma notícia se baseie em suposições quando os factos não são evidentes!
A abundância de canais informativos por cabo, a concorrência entre si, a luta fratricida pelas audiências acabou por colocar o país a caminho de eleições legislativas que ninguém quer e a ninguém aproveita.
Mas isso até interessa aos tais canais que viverão do maná das eleições e lhes permitirá encher o tempo de antena de forma barata, bastando para isso socorrer-se de “comentadores televisivos”, essa nova classe de “radialistas” de gravata que a cada momento conseguem ter opinião para tudo, não percebendo nós por que razão não são ou foram ministros da República?
Ou será isso mesmo que se pretende? Limitar a liberdade das pessoas e das empresas ao ponto de as atemorizar e a deixarem a política “para quem percebe disto” embora, infelizmente, o povo ainda não se tenha lembrado deles?
Por Arnaldo Meireles