A eleição de um novo Papa cria expectativas em todo o mundo, dentro da igreja e fora dela. O que prova que ao longo dos anos os diversos Papas têm marcado a história e opinião pública mundiais.
- Haverá um elemento surpresa. Não podemos colocar um programa ou um rótulo na pessoa que será eleita. Importante que ele nos incentive a não nos concentrarmos em nós mesmos, na Igreja, nos nossos problemas e nas nossas potenciais divisões. Mas, antes, que nos ajude a permanecer orientados pelo Reino de Deus que vem e nos surpreenda, estando atentos àqueles que têm a vida mais difícil.
- É certo que a nossa Igreja será cada vez mais uma corrente de pensamento entre outras. Contudo, em vários países europeus somos a Igreja histórica. Aceitar que somos um entre muitos não nos impede de cuidar de todos, inclusive da grande maioria que não se reconhece em nós. Se a Igreja Católica não se importa com os pobres e com a paz compartilhada, ninguém o fará por nós.
- Não temos uma identidade a defender, mas um caminho a seguir. Cristo chama os discípulos para o seguirem. Não começa por definir quem eles são. Além disso, ele mesmo não define quem ele é. A sua identidade só é descoberta ao longo do caminho, e mesmo depois de sua morte.
O CENTRO DE GRAVIDADE NA IGREJA
- Em Roma, pessoas de todos os continentes tomaram consciência de uma unidade a ser encontrada, que só pode ser harmonia, não uniformidade. Todo o processo do Sínodo consistiu em confiar na maneira como cada Igreja local vive o Evangelho na sua cultura, com a aposta de acreditar que isso é bom e promissor para outras Igrejas em outras culturas.
- A Igreja tem o desafio de acolher e apoiar de forma comunitária; não pode mais delegar somente ao padre. É um sinal dos tempos. Várias iniciativas nascem das mãos de leigos que, há 150 anos, teriam ingressado na vida religiosa. Hoje eles trabalham, são um casal. A questão, portanto, não é tanto o número de sacerdotes, mas sim a nossa maneira de acolher o que o Espírito realiza hoje.
- Não há um modelo único, mas vejo pelo menos três critérios. Primeiro, a nossa organização só é justa se nos permitir estar ao lado daqueles que têm as vidas mais difíceis. Este é realmente o teste perfeito do nosso modelo de intervir e governar. . Espera-se que a Igreja seja antes de tudo fraterna. Por fim, confiamos nos carismas que existe-
- Os pobres são o caminho para o anúncio de Deus. Nos Evangelhos, é através do contato com os mais pobres que Jesus anuncia o reino de Deus, o que quer dizer que Deus renova o mundo de baixo para cima.Leia também
A MENSAGEM ACESSÍVEL DA IGREJA
- O risco seria pensar apenas na salvação eterna, sem ter nenhuma ligação com o que estamos a viver aqui e agora. Hoje, com a catástrofe ecológica que nos ameaça a todos, a questão da salvação surge de forma muito concreta. É do mal, da injustiça, da violência de hoje, que vivenciamos em nossa carne, que precisamos ser salvos. E esta salvação, diz-nos a fé da Igreja, é mais forte ainda que a morte.
- Não acredito em rigidez doutrinária ou na ideia de que a doutrina pode ser negociada. A nossa relação com o “mundo” não é primariamente uma questão de ataque ou defesa, ou de estratégias de comunicação… Mas o nosso mundo produz violência. Seremos capazes de mostrar humanidade para com aqueles que são vítimas, por um lado, e, por outro, evitar incutir essa violência dentro de nós? Quando podemos responder “sim” a ambas as perguntas, o que nunca é garantido, acredito que somos realmente merecedores de confiança.
Por François Odinet , da diocese de Le Havre, é padre de campo, comprometido com os mais pobres e, desde 2024, capelão geral da Catholic Relief Services na França, e teólogo renomado, responsável pela teologia prática e pastoral nas Faculdades Loyola (Paris). Essa dupla função permitiu-lhe participar nas diversas fases do Sínodo e, em particular, ser convidado como especialista durante a Assembleia final em Roma, em 2024.