O Partido Socialista perdeu as eleições legislativas de 18 de maio numa derrota dolorosa que o colocou atrás do CHEGA agora o segundo partido português e líder da oposição no Parlamento. Em Paços de Ferreira a derrota foi ainda mais dolorosa, pois ninguém admitia que a camisa 10 na lista socialista do distrito do Porto até na sua aldeia natal acabasse por ser humilhado naquilo que lhe restou: o terceiro lugar.
Candidato a deputado na lista do PS pelo distrito do Porto, por ter sido presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira em três mandatos seguidos e suportados em maiorias absolutas, entendeu a camisa 10 que “só com ele o PS venceria” na capital do móvel, não faltando apoiantes (mais altifalantes) que ativaram a mensagem que com o candidato Leão a vitória era certa. Mas não foi. O que aconteceu então para que a crença, a fé e expetativa se tivessem transformado num pesadelo?
A divulgação da caso da violência doméstica
O nosso jornal divulgou o caso da violência doméstica julgado em processo criminal em Paços de Ferreira pelas seguintes razões:
- ninguém tinha acesso ao processo por muito que procurasse e pedisse o acesso
- segredo absoluto sobre a decisão do tribunal.
- o réu do caso assumira a candidatura ao Parlamento pelo Partido Socialista que a aceitou.
Entendemos nós que um candidato a deputado – por um partido humanista e democrático – tem de ter um perfil político e humano que lhe permita representar os portugueses que nele votem. Pelo que esta informação era relevante para a livre decisão dos eleitores.
Por recato apenas divulgamos o número do processo que estava escondido, reservando-nos para tratar em momentos futuros, se houver necessidade política, dados mais pormenorizados sobre o assunto.
Comportamento antidemocrático do candidato
Em plena campanha eleitoral e por duas vezes, o camisa 10 do PS pelo Porto, e numa delas usando o facto de ainda ser presidente da concelhia do PS em Paços de Ferreira, fez publicações com ameaças à liberdade de imprensa, chegando ao ponto de solicitar a “intervenção das autoridades” para impedirem publicações, (desconhecendo o seu conteúdo!) e, depois desenhando um comunicado avisando que colocaria a www.radiofreamunde.pt nas mãos da justiça! Ameaças também dirigidas ao jornal www.emissor.pt e à Comunidade de Paços de Ferreira (página no facebook)
Embora não estranhemos este comportamento, o camisa 10 é capaz disso e muito mais, parece não ter ideia do que é o partido a que pertence, mesmo depois de doze anos a pôr e a dispôr, das coisas, das decisões e também das pessoas que – acha ele – lhe devem reverência, num universo legal e democrático que, no seu entendimento, não é mais do que sinal de que estão agradecidas pelo muito que tem feito por elas.
Afirmando-se líder consagrado convém lembrar aos leitores uma das suas máximas de filosofia política que deve ser atendida:
Com reverência e buscando as nossas maiores capacidades, devemos pois avaliar a profundidade do pensamento democrático desta figura política. E em caso de dúvida apontamos algumas personalidades do PS de Paços de Ferreira que poderão ajudar-nos a chegar ao juízo perfeito:
- Ricardo Pereira, ex-presidente da Assembleia Municipal de Paços de Ferreira
- Armanda Fernandez, ex-presidente da Junta de Freamunde, ex-presidente da Concelhia do PS de Paços e Ferreira e membro da Comissão Política Nacional do PS
- Paulo Barbosa, ex-vice-presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira e hoje candidato independente nas próximas eleições autárquicas deste ano
Desde 2021 que aqui no nosso jornal fomos apontando casos concretos de atitudes antidemocráticas do agora camisa 10 apontando que elas ficavam a dever muito ao esclarecimento e que mais não eram que jogo político:
- anúncio de saída do FAM em finais de 2021
- resolução definitiva do caso ETAR de Arreigada – campanha de 2021
- resgate do contrato da água com empresa gestora.
Além destes casos concretos que ficam a dever muito à verdade, registou-se a criação de um ambiente de perseguição política aos adversários (e até alguns trabalhadores) e a jornais e jornalistas que não aceitaram o maná oferecido. Por isso ao longo do tempo escrevemos algumas crónicas que ilustraram este ambiente e que reproduzimos de seguida. Como podem ver nem os mais próximos escaparam à ferocidade do “leão” .
A PEIDA QUE NOS VIGIA E INFORMA
E é assim que, com este ativo político, o Partido Socialista conta com o senhor deputado, o 10 do Porto, com quem vai estudar a melhor maneira de reconstruir o partido em Portugal.
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As Mulheres Socialistas sabiam ?
Na última sexta-feira relembramos aos nossos leitores o número do processo por violência doméstica que decorreu no tribunal de Paços de Ferreira.
Tratava-se, até esse dia, de um segredo inexplicável: ninguém tinha acesso agora ao processo e as pessoas que o tinham referido deixaram de ter essa informação nos seus computadores por razões também ainda desconhecidas.
A novidade desta publicação acabou por nos trazer mais surpresas – vários dirigentes socialistas “desconheciam” o processo, e perante a nossa divulgação perguntaram entre outras coisas a razão que terá levado os socialistas de Paços de Ferreira, com assento na distrital, a não terem esclarecido a atual direção do “curricula” humanitário do candidato nº 10.
Maior espanto aconteceu na tentativa de entender o silêncio das Mulheres Socialistas de Paços de Ferreira perante a mesma situação tendo elas recorrido à narrativa da boca fechada. Difícil portanto entender como as MS do nosso concelho compatibilizam os valores que defendem, sobretudo o valor da mulher na sociedade, no trabalho e família, – valores importantes como sabemos na matriz ideológica do PS desde o primeiro dia da sua fundação – e a falta de intervenção quando souberam que uma figura pública do concelho (presidente da Câmara Municipal) estava a explicar ao juiz a acusação de que era alvo.
E se nos permitem a adaptação à narrativa válida até 18 de maio, podemos perguntar se esta mensagem não era válida para o PS já em 2021. Nessa altura não foi. E pelos visto também nã é agora que este caso se tornou notícia pelo facto de o PS ter colocado na lista de deputados para as próximas eleições uma personalidade submetida que foi à acusação de violência doméstica.
Por que razão a Mulheres Socialistas se calaram e calam perante isto? Não sabemos, mas razões haverá.
Tivessem informado, quem de direito, no interior do partido e, provavelmente, alguns dos seus dirigentes maiores estariam dispensados de gerir a “batata quente” que o candidato nº 10 é nas suas mãos. Tivessem cumprido os seus ideais e a dignidade do Partido Socialista de Paços de Ferreira manter-se-ia incólume.
(Continua)
Obviamente, não me demito
As eleições legislativas de 18 de Maio foram provocadas por razões de natureza ética, com os socialistas a entenderem que o primeiro-ministro não a teve em conta na sua atividade empresarial e o líder dos socais-democratas a referir que tinha cumprido todas as obrigações legais.
Importa referir que a ética política é entendida aqui como “ética republicana” com o princípio básico de que a sua justa medida é a lei. Esta estabelece os limites do que é lícito e não lícito e portanto o que é reprovável ou aceitável à luz da opinão pública. E presume-se, como princípio de justiça desta ética, que a lei, sendo geral, se aplica a todos na mesma medida.
Por razões de marketing político optou o líder do PS em sublinhar que “não é como Montenegro” defendendo que o candidato da AD não tem “qualidades” éticas para se candidatar a Primeiro-Ministro.
No decorrer da pré-campanha, entretanto, e enquanto acelerava a discussão a nível nacional, rebentou a notícia de um caso de “violência doméstica” envolvendo o presidente da distrital de Braga do PS e também presidente da Câmara Municipal de Vizela. E, perante isso, pronunciou-se o líder do PS convidando Vitor Salgado a “demitir-se” dos cargos no partido e informando-o que não “teria o apoio do PS” nas eleições autárquicas de 2025.
A decisão de Pedro Nuno Santos foi rápida e correspondeu ao exigível não tendo havido contestação à mesma com leve excepção em Vizela por razões facilmente entendíveis.
Em Paços de Ferreira
Esquecido na gaveta e na memória dos jornalistas estava o processo de violência doméstica que decorreu em Paços de Ferreira e que envolveu o presidente da Câmara e agora candidato a deputado pelo PS, Humberto Brito.
Recolocado na linha da atualidade, a distrital do PS do Porto tomou conhecimento do processo NUIPCº148/21.8T9PFR que correu termos no Juízo Local Criminal de Paços de Ferreira, tendo sido já realizado julgamento.
Também a direcção nacional do PS recebeu a mesma informação tal como relevantes deputados que lamentaram a falta de escrutíneo prévio sobre candidatos que com o seu comportamento acabarão por colocar em causa a imagem do partido e sobretudo a história do PS na defesa e promoção das mulheres em Portugal.
Reacções diferentes perante igual acusação
O lider do PS da distrital de Braga apresentou a demissão ao secretário geral do PS, mas o líder da concelhia do PS de Paços de Ferreira e candidato a deputado não apresentou a demissão da concelhia nem da lista de candidatura já entregue oficialmente.
Não sendo previsível que esta segunda demissão venha a acontecer, resultará um problema para ser dirimido depois de 18 de maio, sobretudo quando o PS decidir oficialmente a candidatura em Vizela. E aqui responder e explicar a Vitor Salgado que a lei é geral e se aplica a todos nas mesmas circunstâncias! com o caso de Paços de Ferreira ainda em aberto.
O banho ético
Temos conhecimento que existem muitas preocupações do PS com estes e outros candidatos que acabaram por entrar nas listas de candidatos. O tempo dirá o que vai acontecer, embora não seja difícil entender o ambiente criado na futura bancada socialista no Parlamento com deputados que colocam em primeira linha os seus interesses em detrimento do Partido Socialista.
Por Arnaldo Meireles
(Continua)
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