Na última semana, penosamente, dei a conhecer aos meus amigos o que chamei de “O delírio em Lisboa” rezando às alminhas que algum juízo pairasse nas visadas e iluminadas cabeças socialistas. Certamente teriam algum cuidado, coisa que o estatuto de “deputado da Nação” normalmente cria na pessoa assim investida. Mas enganei-me, embora não esteja nada surpreendida.
É que não foi preciso muito para que o “deputado de Carvalhosa” tivesse divulgado uma proposta (sua evidentemente) sem qualquer conhecimento do partido onde (ainda) está integrado. Ora vejam!
Acredite; isto foi mesmo publicado na página pessoal do senhor deputado. Isso mesmo, como “proposta de lei” mais ao menos a dizer isto:
- Comigo a país vai para a frente!
- Ai vai?
- Então não vai!
- Ora!
- Doze anos no poder na Capital do Móvel sempre a inovar!
- E em Lisboa…
- Aqui na Corte é que vão ver, eles não sabem nada;
- Eles?
- Que estudassem!
- Mas o seu projecto de lei não tem de ser do conhecimento do Partido?
- Ora, eu já disse o que pensava, o PS que aprenda que tem pouco tempo!
Este foi o meu sonho na noite seguinte ao ler a iniciativa do “senhor deputado”, tendo em conta as suas intervenções na Assembleia Municipal. Mas, agora que estou acordada e espantada partilho com os meu amigos o seguinte:
Como os meus amigos sabem, mas o senhor deputado desconhece, no Parlamento Português, a preparação de uma proposta de lei segue um processo estruturado:
- Iniciativa – As propostas de lei podem ser apresentadas pelo Governo ou pelas Assembleias Legislativas Regionais. Já os deputados e grupos parlamentares apresentam projetos de lei.
- Admissão – O Presidente da Assembleia da República avalia a proposta e decide se a admite para discussão.
- Parecer da Comissão – A proposta é enviada para uma Comissão especializada, que emite um parecer sobre o seu conteúdo.
- Debate na Generalidade – O Parlamento discute os princípios gerais da proposta em sessão plenária e vota a sua aprovação inicial.
- Debate na Especialidade – Se aprovada na generalidade, a proposta passa por uma análise detalhada, artigo por artigo, podendo ser alterada.
- Votação Final Global – Após as alterações, a proposta é votada novamente no plenário.
- Promulgação – Se aprovada, o Presidente da República pode promulgar a lei ou vetá-la, solicitando alterações.
- Publicação – A lei é publicada no Diário da República e entra em vigor.
Ora depois disto, o Parlamento que se habitue. A originalidade habita o senhor deputado e dispensa Sua Excelência de tratar com os colegas de bancada seja o que for. Afinal – pensa ele – a legitimidade é dele e por isso apenas mora na bancada!
(Aos cépticos, permitam-me que vos lembre teorias “democráticas” (evidentemente de Sua Excelência) pondo em causa a utilidade da Oposição no Município de Paços de Ferreira! O problema é que esta postura não tem – segundo ele – nada de antidemocrático: antes (pensa ele) a excelência da governação socialista (dirigida por ele, é claro) torna dispensável a existência da Oposição!
Aqui a mosca dá-vos pois nota deste desenvolvimento por ser grave e está a investigar, até sexta-feira se puder ser, as razões das movimentações secretas do senhor deputado – um apêndice do senhor Torres – e das investidas de Paulo Barbosa junto de José Luís Carneiro e de António José Seguro.
Mas pronto, tive que vir à luta quando devia estar na praia da Ericeira a aquecer o esqueleto. Mas o senhor deputado não deixa de me surpreender com a sua criatividade. Que hei-de-fazer, meu Deus!
A Mosca – Por aqui andarei enquanto puder respirar a liberdade nascida em Abril
O delírio em Lisboa
(texto editado a 13 de Junho)
Alguém, no seu perfeito juízo, teria capacidade de imaginar que uma “feira nacional de mobiliário” realizada em Lisboa fosse inaugurada por um deputado da Oposição ao Governo? Ora, meu amigos foi o que aconteceu esta semana no Pavilhão Carlos Lopes tendo sido o povo informado disso mesmo pela excelentíssima direcção da AEPF. Ora vejam:
Ontem assinalámos a abertura oficial da 63.ª edição da Feira Capital do Móvel, com a presença da Direção da AEPF – Associação Empresarial de Paços de Ferreira, de Paulo Ferreira, Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, seguida da visita de João Torres, Exmo. Senhor Deputado e Secretário Nacional do Partido Socialista e de Humberto Brito, Exmo. Senhor Deputado à Assembleia da República. Foi um momento simbólico de encontro e partilha, que reforçou a confiança no setor e o orgulho no que representa o mobiliário nacional.
Esta novidade está na página oficial da Associação Empresarial que postou para a foto sorridente ao lado de membros do PS – pelo menos representante de cerca de 50% do partido cá no burgo!
Que os políticos se aproveitem, a gente já sabe e até perdoa – por piedade democrática. Mas por que razão aceitam os empresários da foto entrar no baile de uma facção partidária num evento de promoção comercial das empresas do concelho.
Quererão os ditos empresários explicar-nos que o seu sucesso empresarial se deve à clarividência política do atual poder? e por isso os convidam para a inaugiração solene? Ou, doutro modo, sentiram-se obrigados a prestar obediência para não diminuir probendas?
Se em termos empresariais deram uma má imagem, pelo menos em termos políticos deram mote à lengalenga da actual Cãmara Municipal – mais uma iniciativa inédita e criativa: ter na inauguração como autoridade solene um deputado da Oposição. É obra!
A Mosca – Por aqui andarei enquanto puder respirar a liberdade nascida em Abril