Meu Querido e Valoroso Líder,
Estimo que esta carta te encontre bem junto dos teus felizes súbditos, em terras de Ferreira – Reino que te foi dado gerir para graça de Deus e benefício dos teus crentes.
Antes de te falar das prendas de Natal, permite-me um pequeno intróito que mais não é que uma explicação devida dada a tua irritação enviada por email, no dia 21 de Setembro do ano transacto, quando verificaste – com espanto – teres perdido um vereador, coisa que contrariava o que me tinhas pedido.
Permite-me que te explique – e espero que tenhas paciência para atender estas explicações de um velho sabedor é certo mas também de alguém que não sendo omnipotente tem a difícil tarefa de atender a todos, de acordo com as possibilidades reais que o céu me dá.
Acontece que os teus vizinhos da secção laranja tinham cá um pedido para o Natal do ano passado em que pediam uma subida tranquila, proporcional à sua “nova atitude”.
Entendi, assim, que não estavam a pedir muito e que seria de lhes agradar.
O que não sabíamos é que esta nossa bonomia te ia irritar tanto. Mas peço-te, encarecidamente, que entendas que na vida uma “mão lava a outra e que as duas (juntas) lavam a cara”. Pronto, eu sei que disto até sabes mais que eu e portanto espero a tua compreensão.
As prendas deste ano
A saída do FAM
Pediste em Janeiro e não imaginas o trabalho que isto meu deu. Infelizmente não ta posso enviar, apesar do teu pedido estar fundamentado com clareza.
Encontrei dificuldades inesperadas na secção do São Bento a que acorri e onde encontrei registada a informação de que por altura do COVID informaste que tinhas estudado assunto e estavas em condições de ensinar a tropa a tratar do problema, “como deve ser”.
Ora, verifiquei um relativo amuanço dos despachantes do reino que teimaram em ver nas contas do sr Sousa um conjunto de desconformidades. Se queres saber o que acho, é tudo inveja dos homens da Corte, eles nem sonham o que perdem por não acolherem a tua sabedoria. Mas prenda do FAM, esquece.
O resgate da Água
Infelizmente também não ta posso mandar; mas aqui permite-me esclarecer que a culpa é apenas tua como te vou lembrar.
Como sabes, os “pedidos ao Pai Natal” devem se feitos no recato dos deuses, até para que aqui se possa “mexer os cordelinhos sem ondas” – estás a perceber, não estás?
Ora acontece que numa manhã entusiasmada te atiraste para os microfones da TSF (ainda te lembras? Aqui no céu ouvimos tudo!) onde disseste que ias acabar “com os mafarricos dos capitalistas”.
Sobre os “capitalistas”, tudo bem, até nos rimos com a piada, mas quando referiste o “mafarrico” levantaste as labaredas do inferno. Não é que ele ouviu, acordou e reivindicou esse assunto para ele?
Nem imaginas como é difícil aturá-lo: imprevisível, irritadiço, parece que está sempre com comichão no cu, nunca pára, não nos dá sossego e nós, porque gostamos da paz, lá cedemos no assunto do resgaste ao dono do Calor.
O resgate está pois guardado numa secção onde não entro, não tenho influência; ainda pensei pedir ajuda a São Marçal, padroeiro dos bombeiros mas ele informou-me que o “mafarrico”, em questões de dinheiro, não fala com ninguém e que cobranças é só com ele. Isto é, o estupor não delega.
De maneira que dá para perceber que nesta data o “resgate da água” é assunto do diabo e como tal não se vê solução quanto mais a prenda pedida: saída limpa! Lamento, embora a mereças, também não dá.
Candidato à Câmara
Confesso que este pedido me deixou relativamente confuso dado que São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, me informou que já tens candidato para 2025.
Pelo que peço me envies um postal esclarecendo algumas pistas:
. o entretanto escolhido já não serve?
. queres novo no lugar do agora escolhido?
. ou estás virado para uma candidatura independente?
Não imaginas o trabalho que estas opções me têm dado. Mesmo com a ajuda de São Tomás More, padroeiro dos políticos, verifico que estes assuntos têm nuances que já não são para as minhas barbas.
Mas ao mesmo tempo tem servido para passar umas tardes regaladas com o São Pedro a falar de política. Como sabes ele é um sabichão nessas coisas. Nasceu como pescador e vê onde chegou.
Ele conta-me que Jesus o foi buscar às águas do mar morto e São Francisco de Sales diz-me que o teu partido te foi buscar às ondas da água.
Como são insondáveis os desígnios de Deus. Estás a ver?
Meu Querido e Valoroso Líder
Vai esta carta longa – e tenho tantas mais para escrever, meu Deus – mas ainda tenho tempo para te dizer que passei por Chaves, ali na Av. Ten. Valadim, 5400-558, e lá almocei no restaurante “Nossa Senhora dos Favores”.
Pedi-lhe ajuda para que te proteja dos “mafarricos capitalistas” mas sobretudo que te dê muita saúde (da boa). E também para que ela te meta uma cunha (é a vida e temos de nos ajudar uns aos outros).
Quando saudares (no Pelourinho, que raio de nome!) os teus crentes e lhes desejares “fraternalmente” um bom Natal e Feliz Ano Novo, não podes acrescentar que esses são também os votos deste teu amigo de sempre?
Para ti e para o teus invoco a ajuda de São Manuel, padroeiro da Paciência, ele que foi embaixador na Pérsia – um político de primeira.
Com os cumprimentos da maior estima e consideração,
PAI NATAL, 2022 ano do Senhor
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