O conselho de chefes de Estado e de governo em Bruxelas, antes das eleições europeias de Junho aconteceu na passada semana. Novas lideranças chegam a Bruxelas com o intuito de deslocar o centro de gravidade político da União para a direita.
Em Portugal, a direita é esmagadoramente maioritária no Parlamento, numa maioria com a novidade de ter 50 deputados do partido Chega – considerado de extrema-direita, num movimento que também em Itália, há 18 meses consagrou no poder Giorgia Meloni. Um sinal é inequívoco: a chefe do governo italiano acompanhou recentemente a Presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, em duas viagens importantes. A primeira, em Kiev, a apoiar a Ucrânia na sua guerra contra a Rússia. A segunda, no Cairo, para a assinatura de um acordo sobre fluxos migratórios entre a União Europeia e o Egipto.
Mostrar pontos de vista comuns sobre dois assuntos importantes é um sinal forte, à medida que se aproximam as eleições europeias em Junho. Especialmente porque as sondagens indicam que a votação irá deslocar o centro de gravidade do parlamento de Estrasburgo para a direita.
A candidata Ursula von der Leyen, membro da União Democrata Cristã Alemã (CDU), está na corrida para procurar um novo mandato. Já foi investida pelo Partido Popular Europeu (PPE), que reúne numerosos grupos de direita no continente.
Mas ela precisará de outro apoio. No centro, o apoio de Emmanuel Macron, figura de destaque da família liberal. E mais à direita, a de Giorgia Meloni, que preside a um grupo em Bruxelas chamado Conservadores e Reformistas Europeus (CRE).
Esta formação de inspiração soberana defende a ideia de uma Europa das nações, ao mesmo tempo que apoia a integração económica europeia e a defesa dos valores tradicionais.
Durante a legislatura que termina, o CRE contentou-se com o papel de oposição. Mas com a nova situação eleitoral, poderá pesar nas políticas da UE. É, portanto, essencial entender as preocupações de Giorgia Meloni, Ela chegou ao poder no outono de 2022 à frente do seu partido, Fratelli d’Italia. Aproveitou o nomadismo eleitoral de um grande número de eleitores que manifestaram ao longo de várias eleições o seu descontentamento pelo ambiente político considerado responsável pela sucessão de crises e políticas de austeridade.
Proveniente do movimento pós-fascista, rompeu em poucos anos graças às suas críticas violentas contra Bruxelas, o euro, as elites, a imigração, as reivindicações LGBT, as teorias de género… Ela lidera uma luta cultural, opondo o conservadorismo ao progressismo .
Defende a nação, o Estado, a família, tantas “comunidades” capazes de oferecer fortes laços de pertença numa sociedade onde uma tendência individualista teria afastado os cidadãos da sua história, das suas raízes, da sua pátria, da sua religião. .
Melloni – a primeira mulher a ocupar este cargo em Itália – tem, no entanto, demonstrado pragmatismo e fluiu para o jogo institucional europeu. Realisticamente ela “pelos interesses do seu país, negocia com a UE; pelos interesses do seu partido, ela discute com Orban”, o primeiro-ministro húngaro, que defende o conceito de “democracia iliberal”.
O paradigma democrático
A União Europeia foi criada em 1958, passou a chamar-se Comunidade Económica Europeia (CEE) e, em 1993, adotou o nome de União Europeia. Ao longo dos anos, juntaram-se mais 22 países ao grupo inicial de seis países. Em 1 de fevereiro de 2020, o Reino Unido saiu da UE. A UE tem, atualmente, 27 países membros e 24 línguas oficiais.
Países que se juntaram para consolidar objectivos comuns de ordem económica e mais tarde de políticas de desenvolvimento. Desde o início, congregados por um conjunto de valores que agora deixaram de ser pacíficos dados os interesses estratégicos agora mais difíceis de conciliar.
Fundada por personalidades vindas da chamada ideologia democrata-cristã, a Europa – de facto a Ocidental dado que a Europa do Atlântico aos Urais se manifesta impossível – reuniu-se para enfrentar o descalabro da II Grande Guerra. Os políticos europeus iniciam o processo de construção do que hoje conhecemos como União Europeia. A Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, fundada em 1951, foi o primeiro passo para garantir uma paz duradoura.
VER: como-nasceu-a-uniao-europeia/
Manifestam-se tendências no sentido de questionar o sistema democrático como o conhecemos, baseada no respeito liberal da decisão e da correspondência ao paradigma de um homem um voto. Em mutação, está o sistema. As eleições europeias de 18 de Junho serão um barómetro para medirmos esta tendência.
Por Arnaldo Meireles