Vivemos uma quaresma do tempo litúrgico que nos pode e deve inspirar para as mudanças a fazer no tempo presente e, como vemos, são muitas, para que uma autêntica transformação da sociedade aconteça.
São sobretudo, mudanças para os caminhos da Paz dos povos, não do negócio da guerra e de quem com ela lucra. Mudança para a humanização das relações em todos os domínios das nossas vidas.
Não podemos consentir no avanço das desigualdades e sermos indiferentes à escravatura que acontece no mundo do trabalho, da fome, da pobreza e exclusões de toda a ordem.
Temos de unir esforços e travar estes combates no nosso quotidiano. Isto é preparação para a Páscoa. Trata-se da passagem de políticas (que reduzem as pessoas a números, que escravizam e condenam ao sofrimento e morte) para outras políticas, isto é, para a libertação deste aprisionamento dos seres humanos. Isto é válido para as exigências que temos de continuar a fazer junto das instâncias a nível nacional, europeu e mundial.
Esta é uma exigência do tempo que vivemos, que tem de implicar-nos. É para nós esta tarefa, este desafio de mudança de políticas.
A palavra Páscoa está ligada a “PASSAGEM”.
Passagem do inverno para a primavera, nas celebrações pagãs;
Passagem da escravatura para a liberdade, nas celebrações judaicas;
Passagem da morte para a Vida, na celebração da ressurreição de Jesus Cristo, nas celebrações cristãs.
A liberdade e o trabalho
Depois da Páscoa estaremos a comemorar 50 anos da Revolução de Abril, e na semana seguinte estaremos a celebrar o primeiro 1º de Maio vivido em liberdade, em Portugal (dia de S. José e dia do Trabalhador).
Como celebramos e vivemos estas datas históricas? Como queremos que se projete para o futuro o 25 de Abril que falta acontecer? Como alertamos as consciências das novas gerações para as armadilhas populistas e as motivamos para que passem a reivindicar seus direitos, conhecendo-os, bem como os deveres associados de participar ativamente, numa cidadania praticante?
Trata-se de datas que constituem marcos históricos da luta emancipadora das mulheres e dos homens trabalhadores, dos povos contra a opressão, em defesa da liberdade e da democracia contra as ditaduras fascistas, de mercado, do capital financeiro, ou de outras roupagens de que se revestem.
Urge de forma determinante a criação de emprego de qualidade com salários justos, a aposta na educação para todos, a habitação condigna, saúde e justiça a que todos tenhamos acesso. A aposta no investimento público e privado, para que os serviços prestados aos cidadãos sejam em quantidade e em qualidade, de forma a que os nossos idosos encontrem respostas humanizadoras e personalizadas, como merecem depois de uma vida inteira de trabalho.
Não podemos continuar a ser campeões no domínio das desigualdades, no valor dos salários, apesar de termos das melhores formações de profissionais de que são exemplo a saúde e a engenharia, e que outros países vêm cá recrutar a custo zero, e nós a precisarmos desses jovens para criarmos inovação, ciência, riqueza neste país.
As crianças continuam a ser um indicador do risco de pobreza ou de exclusão social. Este não pode ser o futuro que temos para lhes proporcionar. As crianças crescem agora e não podem esperar que a economia cresça.
Urge erradicar estas políticas que conduzem os povos à pobreza, que conduzem à alienação da independência e soberania nacional, violando reiteradamente a Constituição da República Portuguesa. Urge promover uma cultura de coesão nacional, territorial e social.
Temos de murar o medo, como bem refere, Mia Couto.
Vamos trabalhar pela erradicação da pobreza. Diz o Papa Francisco que “os direitos humanos são violados também (…) pela existência de extrema pobreza e estruturas económicas injustas, que originam as grandes desigualdades”.
Por isso, temos de continuar a nossa militância na luta contra a pobreza e a exclusão social, contra a indiferença, contra a precariedade no trabalho, a emigração forçada, a falência de empresas, o modelo de baixos salários e pensões. Segundo o INE continuamos a ter trabalhadores que, apesar de trabalharem, continuam a ser pobres. Não ganham o suficiente para o seu sustento e da sua família.
Com quase 900 anos de História não vamos baixar os braços. Sigamos o exemplo dos que nos precederam na organização e na luta em defesa de um mundo mais justo e solidário.
É o tempo maduro para o processo de libertação, de que nos fala Leonardo Boff. Primeiro na mente. Depois na organização. Por fim na prática.
Libertação significa a ação que liberta a liberdade cativa. A libertação começa na vossa consciência e no resgate da vossa própria dignidade, feita mediante uma prática consequente.
Os valores evangélicos são compatíveis com a luta sindical na medida em que há identidade nos princípios e valores defendidos, no respeito pelos direitos humanos.
Dia 25 de Abril e 1 de Maio mobilizemo-nos todos, levemos um amigo que trará outro amigo, também… e trabalhadores e povo engrossaremos as fileiras das comemorações e da luta de todos os dias, por mais e melhores condições de vida e de trabalho.
Vamos continuar o nosso trabalho em defesa da Paz, da justiça, da liberdade, da democracia, da igualdade e da soberania.
Unamo-nos na edificação desta causa maior!
Deolinda Carvalho Machado é professora, dirigente associativa e membro da LOC-MTC.