A mentira é um fenómeno ubíquo nas interacções sociais humanas. Seja como mecanismo de defesa, como instrumento de engano, ou mesmo como sustentáculo de uma sociedade inteira, a mentira permeia de forma subtil mas persistente todas as nossas relações e acções.
Olhando de forma crua e realista, poucas são as interacções humanas que não contêm, em maior ou menor grau, algum elemento de falsidade. Desde a mais simples troca de cumprimentos até aos mais íntimos laços afectivos, a mentira serve como lubrificante social, permitindo que a maquinaria das nossas vidas funcione com uma aparência de harmonia e normalidade.
Muitas vezes, a mentira surge como protecção, um álibi para evitar a exposição de vulnerabilidades ou o confronto com realidades desconfortáveis. Noutras situações, é usada como estratégia de manipulação, um meio de obter vantagens ou de exercer controlo sobre outrem. E em alguns casos extremos, chega mesmo a ser a base sobre a qual uma sociedade inteira se constrói, um véu de ilusão colectiva que permite a manutenção de uma ordem social frágil.
Paradoxalmente, é precisamente esta ubiquidade da mentira que torna a sua erradicação tão difícil. Afinal, como separar o verdadeiro do falso numa teia de relações em que a sinceridade absoluta se torna quase impossível? Como confiar numa sociedade em que a mentira é, em certa medida, o cimento que a une?
Estas questões não têm respostas simples. A mentira, com o seu veneno subtil, continua a contaminar o nosso mundo, minando a autenticidade das nossas vidas e das nossas ligações. Talvez a única saída seja a aceitação da sua inevitabilidade, aliada a um esforço constante de cultivar a honestidade, a transparência e a coragem de enfrentar a verdade, por mais dura que ela possa ser.
Por João Pontes – Texto, fotos e titulo