Todos os regimes têm a polícia politica que merecem. A STASI na antiga República Democrática (pois claro) da Alemanha, o KGB na União Soviética e aqui na Lusitânia a PIDE. Na nossa terra temos a PEIDA.
Olhos atentos à verdade oficial e conveniente, produtores de relatórios de afiliações e outras aflições mas sobretudo dedicados a registar os desvios às ordens do poder.
Uma função que gravita nas sombras do poder, de excelsa dedicação e de prestação de serviços a quem manda, mesmo que não haja encomenda.
Olhos que vigiam e não vêem
Olhos disponíveis mesmo para ver o que não acontece mas que parece que vai acontecer; olhares atentos aos sinais dos tempos e das pessoas.
E as pessoas, esses entes queridos que gravitam na liberdade da vida mas que por opção ou inclinação – vá-se lá saber qual – abrem a boca e falam, conversam e até discordam das decisões públicas ou constadas provenientes do perfume do poder.
Olhos atentos a encontros de circunstância – na rua, nos cafés – com registo da companhia e consequente informação (relatório) carregado de “impressões” mesmo quando não há nada para dizer.
Mas convém fazer constar, até para apresentar serviço, provar fidelidade e, assim, manter o conforto do cargo ou função que não tendo caído do céu se manifestou no dia da vitória eleitoral para a qual se trabalhou.
O exército dos bons e dos maus
Esta definiu o exército dos bons, e marcou o exército dos maus, num relato a preto e branco onde nem o cinzento (dúvida) é permitido.
Há olhos para todas as idades e os mais velhos atrapalham-se quando vigiam comportamentos de amigos de outrora e agora no lado negro porque insistem em pensar pela própria cabeça.
Daí que os olhos não vejam os velhos amigos mesmo nos encontros fortuitos na bebida de um fino com tremoços no café.
Mesas imprevistas onde não se podem partilhar cadeiras por causarem “associações inconvenientes” muitas vezes até com “velhos amigos” que, noutros tempos, até trocaram favores.
Os amigos inconvenientes
Olhos que não vêem, abraços que encolhem e beijos que secam, não vá alguém pensar que eles os olhos deixaram de seguir o rumo definido ou passaram à fase da dúvida num tempo em que só se admitem certezas: de que lado estás?
Olhos que juntos com outros olhares dão corpo à PEIDA – Polícia Entendida em Informações Da Aldeia.
Assim rola a vida que a todos toca. Afectados mais aqueles que da vida pública fazem fé e compromisso, indiferentes todos aqueles que das suas decisões dependem e por isso esquecidos por esta “polícia política”.
A PEIDA existe e funciona. E cada terra tem a peida que merece! Ao contrário do passado não usam fato e gravata e também não usam brilhantina no cabelo. Vivem de outros perfumes.
Por Arnaldo Meireles
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peida – a nossa polícia política
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