Estava já velha, dizem alguns. Era um perigo, comentam outros. Só ocupava lugar, exclamam mais alguns. Dava uma sombra divina. Todos apresentam razões para o sucedido.
No entanto, quando acreditavam que o velho tronco estava condenado a desaparecer, esqueceram-se que ainda não tinham arrancado as suas raízes.
A vida é mais forte que a velhice; a vida é mais forte que o robusto tronco; a vida sempre triunfa sobre aquilo que consideramos inútil, estorvo ou perigo.
O problema que nos aflige hoje, talvez, não seja tanto referente aos troncos, mas um problema de raízes.
- Há demasiadas vidas sem raízes profundas;
- há demasiadas instituições carentes de raízes, que terminam sendo instituições vazias;
- há demasiadas decisões sem raízes, porque são tomadas num momento emocional, mas sem terra que as sustente;
- há demasiadas convicções ideológicas sem raízes…
Por isso são vidas que morrem facilmente; morrem com a facilidade com a qual morrem os sentimentos que as sustentavam. As suas raízes estão tão na superfície da terra que acabam morrendo antes que o tronco.
- Cultivamos os ramos com muito esmero, mas nos esquecemos das raízes.
- Cultivamos muito o tronco, mas não alimentamos as raízes;
- Cultivamos muito a aparência, mas não nos preocupamos em colocar água nas silenciosas raízes que não se veem.
Quando as raízes têm vida, pode ser que alguns ramos se sequem, mas ainda permanecem outros suficientes para embelezar a árvore.
Quando as raízes têm vida, podemos encontrar dificuldades no caminho, mas a vida é mais forte que os obstáculos.
Quando as raízes têm vida, podemos passar por momentos de prova, mas a vida que sobe pelo tronco é mais forte.
Desde tempos imemoriais, Deus semeou sementes de Vida. Para que as encontremos, mesmo no desaparecimento do tronco para encontrar as raízes escondidas.
O Advento que chega
Agora estamos no tempo que nos oferece o momento privilegiado que nos motiva a “descer” em direção às nossas raízes interiores, para ativá-las e cultivá-las.
É preciso levar as águas vivas do evangelho às profundezas do coração.
Por isso, o Advento revela-nos um componente de expansão, que alarga o nosso ser, que nos dinamiza e nos eleva, ao mesmo tempo que é experiência radical daquilo que é mais humano em cada um.
A partir das “raízes interiores” o Advento ilumina e dá sentido ao nosso modo de ser e viver; ao abarcar toda a vida, alcança também a nossa ação transformadora no mundo.
Advento como força vital que sacode o nosso mundo interior, alimenta as nossas raízes e faz surgir novos ramos que se visibilizam na nossa maneira original e inspirada de ser e viver no mundo de hoje.
E sabemos donde vem essa força recriadora.
E compreendemos que a espiritualidade é uma experiência que tem raízes no coração e que precisa de interioridade. Pois, sem ela, como ter sonhos e criatividade?
No nosso interior existe uma riqueza acumulada que procura expressar-se pelas palavras que somos; naquele nível profundo onde cada pessoa mergulha no silêncio à escuta de todo o seu ser.
Recordando Francisco, o Papa: “Estamos decididos a percorrer os caminhos novos que a novidade de Deus nos apresenta ou nos entrincheiramos em estruturas caducas, que perderam a capacidade de resposta?”.
Radicalidade dos dias
“Radicalidade” – aquela que significa ser suportado, carregado e alimentado por uma raiz que está plantada fundo no chão. É como uma árvore que se apoia, se sustenta e se alimenta das suas raízes. Radical é aquele que vive perto da raiz, que se alimenta da raiz, que toma as coisas pela raiz, pelo fundamento.
O sentido que “radicalidade” transmite é esta proximidade do chão, este estar plantado no chão da vida ou estar enraizado na terra, na realidade.
Quando dizemos que os homens e as mulheres do Advento costumam ser radicais, queremos mencionar, em primeiro lugar, esta proximidade da terra, esse enraizamento profundo que alimenta a vida, que sustenta o tronco e a copa da árvore em todo e qualquer tempo, dando-lhes firmeza e consistência.
“O machado já está na raiz das árvores” (Mt3,10)
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