José Luís Carneiro, actual ministro da Administração Interna, vai comunicar sábado a sua disponibilidade para concorrer à liderança do Partido Socialista no próximo congresso que estando marcado para Março será antecipado. Enfrentará Nuno Santos que há anos prepara a sua candidatura em confronto político com António Costa.
Neste momento os militantes do PS estão a ser contactados para assumirem alinhamentos de facção, existindo uma larga maioria a favor de Nuno Santos, afigurando-se difícil, mesmo épica, a tarefa que o político de Baião vai assumir.
Em termos políticos, irão os delegados ao Congresso optar pela visão de Nuno Santos que aponta para uma opção ligada ao passado recente do partido iniciada em 2015 por António Costa que abandonando o centro político no Parlamento a ele foi fiel nos anos de governação – o que justificou a queda do primeiro governo e as eleições antecipadas que deram a maioria absoluta ao PS?
Perante esta recentração do PS, Numo Santos, chamado a ministro por Costa, personificou as esperanças da geringonça e rompeu, muito cedo, com a liderança do partido e tratou de mobilizar a chamada máquina partidária no sentido de garantir aos seus membros uma espécie de “seguro de vida política” assente em duas vertentes: Com aliança à esquerda garantiria o poder aos seus, e com a recusa de viabilizar o governo ao centro (ou com PSD a viabilizar governo minoritário socialista) definiria as regras parlamentares de sustentação do Poder.
Desde muito cedo, António Costa abandonou esta visão a governou ao centro chamando para o seu lado – muitos dos seus inimigos, para acautelar a paz no PS – personalidades como Mário Centeno e depois Fernando Medina com os resultados conhecidos.
Percebeu-se assim que se António Costa usou a esquerda para formar governo, dela se distanciou para governar até ao momento de dela não precisar.
A candidatura de José Luís Carneiro insere-se nesta visão política, de continuidade da governação dos últimos 8 anos, mas sobretudo para garantir ao País uma governação institucional respeitadora dos compromissos nacionais e internacionais assumidos. Ou seja uma governação (se ganhar as eleições de 10 de Março) semelhante à actual.
O reforço do centro político
Hoje a necessidade de recentrar a política portuguesa à volta do PS e do PSD é grandemente consensual na opinião pública. E no PS aumenta o número daqueles que se distanciam (agora) do golpe de Costa em 2015. Perceberam que essa opção favoreceu o aparecimento e reforço do CHEGA com quem, pelos vistos, ninguém se quer associar.
Contudo também já se percebeu que o caminho para impedir a radicalização política é exactamente tornar o CHEGA desnecessário seja qual for o resultado que consiga. Mas isso implica a determibação dos democratas em actuar em conformidade e assim no parlamento viabilizar o governo de quem venha a ganhar as eleições de Março, mesmo que em maioria relativa.
Como lembram os sociais-democratas, na ocasião da liderança de Guterres, o PSD sustentou/viabilizou um governo de maioria relativa durante uma legislatura inteira! Falta portanto saber se o “novo” PS reentra no equilíbrio do centro ou opta pela indisponiblidade de aceitar o resultados das eleições.
Impedir a radicalização do sistema democrático português está nas mãos dos líderes dos dois partido. Por isso, a disputa eleitoral no PS ganha importância até para sabermos em que sentido evolui o nosso regime: a radicalização e imprevisibilidade da política ou a confiança num sistema que garantindo uma democracia aberta e plural se protege dos seus inimigos, dando aos mãos quando é necessário!
O homem de Baião que pode ser Primeiro-Ministro
José Luís Carneiro nasceu em Baião, em 1971.É Licenciado em Relações Internacionais, Mestre em Estudos Africanos e concluiu a parte escolar do doutoramento em Ciência Política e Administração no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa
- Vereador sem pelouro na Câmara Municipal de Baião entre Janeiro de 1998 e o dia 02 de Novembro de 2005;
- Assessor do Gabinete do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna entre 1999 e 2000;
- Chefe de Gabinete do Grupo Parlamentar do Partido Socialista entre 2000 e 2002;
- Em Fevereiro de 2005 foi eleito deputado à Assembleia da República. Integrou a Comissão dos Negócios Estrangeiros e foi eleito membro da Assembleia Parlamentar Euro-Mediterrânica;
- Presidente da Câmara Municipal de Baião entre o dia 02 de Novembro de 2005 e o dia 23 de Outubro de 2015;
- Membro do Comité das Regiões entre 2006 e 2015. Integrou as Comissões de Educação, Juventude, Ciência e Cultura (EDUC) e a comissão de Coesão Territorial (COTER). Foi, ainda, eleito Presidente da Comissão de Recursos Naturais (NAT), função que desempenhou entre Fevereiro e Outubro de 2015;
- Presidente da Cooperativa de Desenvolvimento Regional «Dolmen», entre 2007 e 2010;
- Foi eleito membro do Conselho Geral da Associação Nacional dos Municípios Portugueses entre o dia 23 de Novembro de 2013 e o dia 25 de Agosto de 2015;
- Foi eleito membro do Conselho Económico e Social a 17 de Dezembro de 2013, função que desempenhou até ao dia 25 de Agosto de 2015;
- Presidente da Associação Nacional dos Autarcas Socialistas entre o dia 04 de Janeiro de 2014 e o dia 23 de Agosto de 2015;
- Presidente do Conselho da Comunidade do ACES-Tâmega entre o dia 20 de Dezembro de 2010 e o dia 25 de Agosto de 2015;
- Presidente da Federação Distrital do Partido Socialista do Porto desde o dia 16 de Junho de 2012 até ao dia 5 de Março de 2016;
- Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas entre 2015 e 2019.
- Deputado à XIV Legislatura;
- Secretário-Geral Adjunto do Partido Socialista
Os caminhos da preparação para a candidatura
A disponibilidade de José Luís Carneiro para disputar a liderança do PS não é de agora. Foi sendo preparada e visível nas últimas eleições para os órgãos federativos. Talvez já ninguém se lembre, mas perguntamos aos leitores quem acompanhou António Costa no encerramento dos congressos do PS em Braga e Porto? ORA VEJA!
António Costa com José Luís Carneiro no Congresso do PS Braga
POSTED ON NOVEMBRO 25, 2022JUNHO 27, 2023
Dezassete congressos distritais no último sábado ocuparam o Partido Socialista em todo o país. Em Braga, António Costa chegou com José Luís Carneiro, e experimentou a unidade construída ao fim de meses de actividade política também ocupada em tratar da futura liderança uma vez que o actual líder ceda a posição. Para memória futura aqui fica a frase paradigmática confessada por Frederico de Castro, presidente da Federação, no momento em que considerou a “necessária unidade” como a opção essencial para que o PS responda ao desafio colocado nas últimas eleições: ” a divergência não pode ocupar o lugar do respeito devido na política”.