No dia 7 de Dezembro anunciávamos a nova líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal e sublinhávamos “atirada aos leões de democracia”. E adivinhámos, infelizmente!
Quem acompanha as Assembleias Municipais conhece o ambiente de confronto e disputa de espaço público na tentativa de impor uma narrativa de poder e de desvalorização da opinião de quem pensa diferente. Aos opositores é mesmo necessária muita resistência, perante a contínua violência verbal, sobretudo do presidente do executivo Humberto Brito que parece ter feito “escola” a avaliar pelas intervenções no mesmo estilo dos seus correlegionários, no mesmo local.
VEJA aqui como se dirigiu HB à líder de Oposição:
Este pequeno exemplo é suficiente para que o leitor verifique a pressão psicológica e moral que HB coloca nos seus adversários e ao que tudo indica com prazer inconfessado, motivado por uma raiva que não tendo explicação (visível) se deve inquirir. Isto é, porque insiste neste modelo de intervenção de confronto nunca respondendo (nunca, mesmo!) às dúvidas/perguntas da oposição, optando por resvalar o discurso para questões pessoais dos seus interlocutores?
Desta vez saiu-se com a “Ética Republicana” para se distinguir da líder da Oposição que, segundo ele, seria de outras aragens morais que não as dele. Ficamos no entanto na dúvida: Saberá HB o que é a Ética Republicana? Conhecerá o princípio básico desta ´”ética” na distinção de outras “éticas/morais”? Ou optando pela “republicana” explica-nos que pode ofender quem quer desde que no uso de palavras escolhidas e cobertas pela lei?
Os costumes, a moral e a ética
Desde a escola, do catecismo, da relação entre vizinhos e amigos, percebemos, sem dificuldade, que o princípio da moral está na distinção entre bem e mal e na crença geral que o bem deve ser praticado e o mal deve ser evitado. Tudo isto, independentemente do que cada um entenda por bem ou mal, e que do conflito entre estes dois valores haja tribunais para resolver a questão.
Foi nesta convicção que gerações e gerações construiram civilizações e ainda hoje é a convicçáo mais generalizada na humanidade, na certerza de que da prática do bem brotarão das acções humanas os princípios da integridade, da honestidade, da veracidade, da transparência, do respeito e da dignidade.
Ética Republicana
Curiosamente para percebermos esta dimensão da “ética” temos de revisitar a monarquia, onde o capelão de Dom Manuel escreveu, em 1496, o livro “Do governo da república pelo rei”…Ora, a convocação actual da ética republicana procura ancorar-se nos escritos de antagonismo à Monarquia, como aconteceu com Teófilo Braga (1843-1924). Percebe-se, contudo, que para os apóstolos da ética republicana interessa que todos os crentes desta “religião civil” se lhes verguem em genuflexão.
É por isso que ver HB a brandir a “ética republicana” como quem segura a cruz face ao demónio, é uma falácia, uma impostura, uma demagogia, uma piada de mau gosto. Com o seu uso, apenas pretende dividir os bons (os dele) dos maus (quem dele discorda).
Tirando, no entanto, a ligeireza do que se considera “ética republicana”, convém aproveitar desta visão humana e social aquilo que a define e estrutura: qual o princípio básico desta ética?
De acordo com Carlos Costa Gomes – Prof. Doutor Ética e Bioética ESSNorteCVP e Pres. da Direção Nacional do Centro de Estudos de Bioética -, Nunca se ouviu tanto, como hoje, falar-se de ética no espaço público, nos corredores da vida política e, em especial, na Assembleia da República. Também, nunca, como hoje, se ouviu falar de ética republicana como se a ética republicana fosse diferente da ética em geral. De acordo com o conceito aristotélico, a ética visa não só a ideia do bem, mas também a concretização do bem. A finalidade da ética é a realização do bem pessoal e social em qualquer atividade humana, como é a política, que procura o bem comum.
Ou seja, para distinguirmos a ética/moral globalmente considerada como a prática do bem e a recusa do mal, a ética republicana baseia-se apenas no cumprimento da lei, pelo que o seu princípio básico e orientador será exactamente isso: Cumprir a Lei Acima de Todas as Coisas! E até se entenderia, se todas as leis fossem boas…
Educação Cívica
Trazemos connosco a nossa história, sinal da civilização, e estamos na vida particular e pública na afirmação dos dias com as nossas opções. É no trato humano, na conviviabilidade entre amigos, vizinhos, colegas de trabalho e até desconhecidos que aplicamos as “regras de protocolo” que mais não pedem que o respeito mútuo e o cuidado de não impedir a afirmação do outro. Chama-se a isso Educação Cívica, de que ninguém está dispensado, muito menos quem exerce funções públicas, sobretudo quando no exercício das mesmas.
O descontrolo emocional
O vídeo que mostramos revela um presidente em fim de mandato, descontrolado emocionalmente, confundindo o plano pessoal com o institucional; não o distinguindo dá sinais de precisar de ajuda, para protecção do prestígio da Assembleia Municipal. Mas também revela que estima os ódios que cultiva como se isso fosse uma devoção particular.
Vemos isso quando refere “o sangue azul” da deputada e nos lança para tempos idos da Monarquia em Terras de Ferreira, altura em que seus familiares buscaram no Brasil o perfume que aqui a nobreza de altura não lhes facultou. Por isso, as declarações de HB foram simultaneamente um desabafo para resgatar o sofrimento dos seus antepassados que dali regressaram. E ele quer vingança!
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De longas terras virão
dois Leoens mui asanhádos
Hum de Cruz, outro não
Vingarão males paçados
- Gonçalo Annes Bandarra ou ainda, Gonçalo Anes, o Bandarra foi um sapateiro e profeta português, autor de Trovas messiânicas que ficaram posteriormente ligadas ao sebastianismo e ao milenarismo português. Nasceu a 01 Janeiro 1500 (Trancoso) Morreu em 1556 (Trancoso)
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