Dias cheios de calor, de festas e “eventos”. Vá lá que a noite é fresca e a saúde ainda aguenta. Mas depois de uma semana de “feira do livro” e duas de “sebastianas” encontrar fôlego para mais três dias de “medieval” é obra!
Mas a providência ajudou-me. Com orçamento esgotado para gasolina, cansaço de pernas para mais andanças, eis que me colocaram à porta um autocarro amarelo para me levar à feira, sem bilhete e tudo. Estou muito agradecido a quem pagou isto!
Confesso que acho mais atraente ir à Feira do Cô, mas isto não foi mau: as tendas dos feirantes estavam abertas (espero que tenham feito bom negócio), os “espectáculos” mais que muitos, cheiravam a coisa pré-feita; e o povo experimentou mais uma vez a felicidade de estar por ser gratuito.
Procurei mas não encontrei a razão ou motivação para que na nossa terra se faça uma “medieval”. Como todos sabemos, a idade média, segundo os historiadores começa com o derrube do último imperador do Império Romano Ocidental, Rómulo Augusto, pelas mãos de Odoacro no ano 476, embora devamos saber que anteriormente já havia reinos germânicos dentro as fronteiras do Império, isto é, que a nova sociedade que podemos considerar já havia começado a se delinear há muito tempo medieval.
….. até 1492 (mais ou menos!)
Embora nem tudo sejam calamidades, na esfera política encontraremos o reforço total da monarquia diante dos nobres que gradualmente perderam todo o seu poder legal, permanecendo abaixo dos monarcas. Da mesma forma a Igreja estaria ligada ao poder dos monarcas e, portanto, também teve que pagar uma série de impostos a eles, o dízimo.
A monarquia que melhor representa isso será a do Reis Católicos, sendo descrito por todos os historiadores como a primeira monarquia autoritária da Europa.
Na esfera comercial, devemos destacar o grande esforço feito pelos europeus em encontrar rotas alternativas para chegar às famosas rotas do Oriente. Graças a isso, os portugueses contornariam completamente a África, descobrindo novas minas de ouro que trariam novas remessas para a Europa, enquanto por outro lado a América seria descoberta nas mãos dos castelhanos na tentativa de chegar à Ásia.
Devemos saber que existem dois factos fundamentais que vão acabar com este período, sendo por um lado o queda de Constantinopla em 1453 e por outro lado o descoberta da América em 1492, a primeira por ser o fim do Império Romano do Oriente e a outra por descobrir uma nova realidade dando origem a uma nova forma de compreender o mundo.
O Mosteiro de Ferreira
Construído no início do século XII, o Mosteiro de Ferreira é a única referência da nossa terra à idade Média, mas veja a seguir:
https://radiofreamunde.pt/interfreguesias/a-importancia-de-ferreira-no-desenvolvimento-da-nossa-terra/
Primeiros documentos relevantes da nossa história:
https://radiofreamunde.pt/feira-antiga/bula-do-papa-em-1629-para-confraria-de-sto-antonio/
https://radiofreamunde.pt/feira-antiga/foral-do-rei-d-joao-v-em-1719/
Por ter feito estas leituras, escrevo que prefiro a feira do Cô, em Penamaior, por ser genuína e nossa (embora tenha vindo do antigo concelho de Negrelos, em 1836!)
https://radiofreamunde.pt/concelho/feira-do-co-experiencias-de-humanidade/
Prefiro descobrir o passado e a memória nas decisões públicas, para as poder aplaudir. Daí que saúde a Bienal de Freamunde no próximo Setembro: haverá ali algo de real para comemorar.
Proteger a nossa memória e garantir o futuro
Ao regressar a casa de “amarelo” lembrei-me da Citânia e daqueles que, de facto, nos deram origem, pelo menos 2500 anos antes de Cristo. Ali viveram cerca de 3000 pessoas! Naquele tempo!
Hoje a Citânia, ao lado do Mosteiro de Ferreira, constituem os pólos de atracção turística da nossa terra. Regressar, em pensamento, a este tempo dá-nos a dimensão da epopeia, mas também a tragédia do desinteresse dos nossos autarcas por aquele património (material e imaterial).
Optaram pelo mais fácil: entreter o povo, mesmo sem mensagem e correspondência com a nossa experiência e passado, com o orçamento (sempre) disponível.
Oferecer aos visitantes uma solução turística de qualidade é premente, baseada no que define a nossa terra e a torna diferenciadora – por isso apetecível na hora de decisão dos clientes.
Apostar na Citânia, com eventos em Sanfins e Eiriz, e apostar no Mosteiro, com eventos em Ferreira, seria uma decisão respeitadora da memória, com reflexos na promoção da nossa terra.
Também exigente, mas interessante, seria partilhar com os nossos contemporâneos o pensamento social, político e religioso dos nossos antecessores na Citânia.
Explicando isso, daríamos horizonte temporal para quem aqui nasceu – um povo que nunca desiste e acredita apenas no seu destino. Como era, antigamente.
Por Arnaldo Meireles
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