Ele destaca três formas para entendermos esta biblioteca de livros:
Em primeiro lugar, pode-se ler a Bíblia como se lê um romance. Esta leitura não requer nenhuma habilidade específica. Escolhemos um livro nessa grande biblioteca (que tem mais de sessenta) e lemos do começo ao fim. Existem vários géneros para escolher: histórias (Génesis, Êxodo, livros dos Reis ou de Samuel, Jonas ou Tobias, Evangelhos, etc.), poesia e sabedoria (Salmos, Cântico dos Cânticos, Provérbios, etc.) e o género epistolar (as cartas de Paulo, Pedro e João no Novo Testamento). Entre os Evangelhos, o de Marcos é o mais curto: pode ser lido em cerca de duas horas. Outros textos são de acesso menos fácil, como os textos legais de Deuteronómio ou Levítico; ou como as profecias de Isaías, Jeremias, Ezequiel…
A segunda forma de abordar o texto bíblico é a leitura religiosa, cujas regras foram formalizadas pelos monges na Idade Média. Esse método consiste em ler o texto deixando-o vir até você, navegando nele como se contempla uma paisagem. Debruçamo-nos sobre palavras, frases que nos tocam particularmente… A partir daí, podemos iniciar uma conversa com Deus, deixando surgir perguntas, uma oração; então deixamos nosso coração, nossa mente, nossa alma aberta para o que Deus quer nos dizer através deste texto…
A terceira leitura é científica. É chamado de “exegese” (de uma palavra que significa “explicação”). Aborda o texto desde um ângulo histórico, literário… A exegese procura compreender o sentido do texto e propor interpretações.
Respeitar o Texto e deixá-lo respirar
Para o padre Gérard Billon, a forma correcta de o ler é respeitar o texto, sem se precipitar numa explicação ou numa interpretação, necessariamente reducionistas. A leitura fundamentalista, por exemplo, consiste em tomar o texto pelo valor de face. Imaginar que a Terra foi criada em sete dias faz o leitor perder o caráter poético do texto, que joga com as palavras e mobiliza imagens…
Se a Bíblia contradiz o conhecimento científico, a pergunta certa é saber o que ela realmente nos quer nos dizer. Quando o matemático, físico e astrónomo Galileu descobre que a terra gira em torno do sol, é condenado pela Igreja porque parece contradizer a Bíblia, enquanto esta se expressa noutro registo: a questão que ela aborda não é tanto ‘como é o céu’, mas ‘como vamos para o céu’. Ler a Bíblia é aceitar que ela desloque o olhar para Deus, para os outros, para o mundo.
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Texto original in: https://religiolook.pt/