Na nossa terra, como em todas as outras, multiplicam-se os “passeios séniores” – aquelas viagens gratuitas para pessoas maiores de 65 anos que estando em descanso são convidadas a passear em convívio.
Dir-se-ia que se trata de uma conquista de Abril, mas, para não espantar a “caça”, sublinhamos a oportunidade que é para milhares de pessoas na fase maior da vida poder usar uns dias para experimentar sensações que – como sabemos – não foram muito comuns, ao longo do vida.
É por isso que olho com bonomia para estas iniciativas e nas quais não atribuo importância política, embora as visitas às Malafaias deste pais sejam um acontecimento político, dado que público e orientado para tratar com amizade e até carinho aqueles que de nós já deram tudo na sua vida privada, familiar e comunitária.
Também são oportunidade para os nossos maiores se encontrarem com os senhores presidentes de junta e até outros autarcas como vereadores e presidente. Num discurso livre, num ambiente de convívio, todos aproveitam; e eu diria que aproveitam mais os representantes do poder, dado que se veem envolvidos num ambiente de acolhimento e até de gratidão – coisa bem estranha no dia-a-dia da política profissional.
E engana-se o político que nisto participa na expectativa de ganhar espaço por antecipação na simpatia partidária destinada a próximas eleições: os nossos eleitores – os maiores porque mais velhos – podem não ter discurso erudito mas têm a certa convicção de que coisas dessas são secretas…
O meu caso
Em tempos idos, andando eu na “guerra das IPSS” contra o Governo do Cavaco, decidimos fazer uma gigantesca manifestação, em Bragança, com almoço para toda a gente (mais de seis mil pessoas), bailarico e orquestra, pois claro.
Estando eu na organização, depois de escolher os oradores, lá começou o comício por ordem de inscrição e deixei o palco perdendo-me na multidão.
O ambiente estava animadíssimo, o orador era muito popular e lá começou a desenhar as “desgraças do Cavaco” no que arrancou muitas palmas e até assobios, coisa que agradou ao distinto líder que, entusiasmado, lá continuou o discurso, esquecendo-se que eu lhe tinha pedido para não falar mais que três minutos…
O homem já ia nos sete! E assim dei atenção a um casal de idosos – eram de Mogadouro e tinham vindo na camioneta que eu tinha encomendado com merenda e tudo – quando o homem diz para a mulher:
- Oh Maria, o homem não se cala e a gente nem dança!
- Oh Quim, não dança nem almoça!
Ouvi e não esqueço; e conto isto para explicar que a nossa gente pode ir “na nossa música” mas desiste se não lhe facultarmos a oportunidade de dançar, com dança escolhida por eles!
E é assim que se dá um saboroso empate que se fica nos olhos cruzados:
- Gostei muito de a ver.-
- Ai, eu também, senhor presidente.
- Saudinha da boa!.
- O que tu queres sei eu….
Mas finalizemos: os passeios séniores são uma conquista da convivialidade dos nossos maiores. E que as juntas de freguesia se dediquem a eles só prova que estão atentas às necessidades de divertimento dos seus fregueses, hoje mais disponíveis para viajar até porque – graças a Deus – vivem mais anos e com melhor saúde. E por isso portadores do discernimento no momento oportuno.
NB: DEPOIS do comício referido, Cavaco Silva mudou de ministro da Segurança Social e nomeou Silva Peneda, tendo com ele começado a vigorar os Protocolos de Cooperação entre as IPSS e o Governo!
_______________
Arnaldo Meireles
pacoslook.pt – o poder da tradição
Fotos: as primeira quatro são da autoria da CMPF. A quinta é do Santuário da Senhora da Serra e da autoria da CM de Bragança que mostra o local do comício referido no texto