A violência doméstica cresce em Portugal, é transversal nas classes sociais e ainda pouco reflectida nos dados oficiais dado que a maioria dos casos não é denunciada. No Vale do Sousa e Tâmega, os dados evidenciam uma tendência crescente, de 20%, face ao número de processos que chegaram à rede de apoio Unidas, em 2022 – referiu Joana Ferreira membro desta organização que integra a CIM Tâmega e Sousa, com sede em Penafiel.
Segundo a mesma fonte, só nos primeiros nove meses deste ano, registou-se uma média de 57 novos casos por mês nas onze estruturas situadas em Amarante, Baião, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canavezes, Paços de Ferreira, Penafiel e Resende. A maioria das vítimas que procura ajuda é do sexo feminino.
Um cenário que vai ao encontro do panorama verificado na Unidas, entre 2020 e 2021, onde 91% das vítimas era do sexo feminino e tinha uma idade média de 44 anos, ligeiramente superior à média nacional de 42 anos.
Referiu também Joana Ferreira que o casamento é outro dos factores comum às vítimas sendo na maioria dos casos o agressor do sexo masculino (90%) e com a idade de 46 anos.
Além disso, 37% das pessoas que procuram ajuda encontravam-se à data, em situação de desemprego e com episódios de violência a ocorrerem maioritariamente (67%) na residência comum.
Na maioria dos casos a violência psicológica (95%) estava também presente.
Há muita violência contra homens que não procuram ajuda por vergonha
Segundo Joana Ferreira os homens vítimas de violência doméstica raramente apresentam queixa:
“Notamos que a violência doméstica exercida contra mulheres tem um determinado perfil e contra homens outro; temos muito menos homens em acompanhamento e o tipo de violência relatada é, essencialmente, violência psicológica, com carácter intimidatório, impedindo de estar com os filhos, mas notamos que os homens chegam até nós estão francamente abalados e têm dificuldade em procurar ajuda por um questão cultural.
Para um homem em Portugal, em pleno século XXI, assumir-se vítima de violência doméstica é quase que diminuir-se enquanto homem na sua masculinidade e é esta mentalidade que tem que ser alterada nas gerações futuras”.